quinta-feira, 17 de julho de 2008

post sem acentos

é engracado como as pessoas nunca se conformam com o que tem.

Bolsa Familia nao é um programa bom que chega, nossas escolas nao sao boas que chega, o preco do RU nao é baixo chega. Nao, nao quero aqui escrever sobre politica, vocês sabem que nesse assunto eu sou uma leiga confessa, e nao é agora que vou me meter a dar pitaco em tema do qual eu nao entendo. Também nao estou dizendo que essas coisas sejam boas que chega, e nesse mérito nem quero entrar. O que quero falar é sobre essa mania de quero mais que nao pode ser satisfeita nunca, sobre esse olhar que so se volta para o proprio umbigo. O que de bom eu tenho? O que, dentre tudo aquilo que eu quero ter, é possivel de conseguir? Nao importa. A unica coisa que importa é que isso nao chega. Como crianca mimada, que chora porque o Papai Noel so teve condicoes de dar a Susie, e nao a Barbie, no Natal.
Esses dias eu ouvi de novo (e acreditem, nao foi a primeira vez) que as coisas na Alemanha nunca estiveram tao mal desde o pos-guerra. Que a pobreza aqui aumenta a cada dia. E eu sei que talvez nao tenha sido muito gentil, mas eu tive que perguntar pro autor da perola o que significa "pobreza" na Alemanha. O que significa pobreza num pais em que o governo paga pro desempregado, depois de terminado o seguro desemprego, aluguel, luz, agua, gas e inclusive (pasmem!) TV, geladeira, fogao, tudo novo se o que ele tiver em casa quebrar. Sem contar uma mesada pra fazer supermercado. Pro resto da vida, se for necessario. "Mas essa mesada é muito pequena", eles dizem, "nao da pra viver assim". é. E eu fico me perguntando se é inocencia ou brincadeira de mau gosto quando eu ouco - e esse é um argumento muito frequente pra xingar a mae da Frau Merkel - que cada vez mais pessoas ganham tao pouco, mas TAO pouco, que nao conseguem nem mais fazer ferias com a familia no verao. Semana passada a gente analisou um discurso do Lafontaine em sessao da Camara de 2007, na monitoria pra aula de retorica.  E ouvimos ele terminar uma sequencia de argumentos indignadissimos destacando o horror que deve ser para uma familia nao poder proporcionar ao seu filho nem ao menos algum passeio escolar. Pelo menos a tutora da disciplina teve o bom senso de admitir que foi um erro do excelentissimo deixar o argumento mais fraco pro final. E segundo a mocinha que dividiu carona comigo no fim de semana, é uma vergonha que a Alemanha faca tao pouco pelas familias. é, é mesmo uma vegonha. Um pais onde frequentar a escola nao é so um direito mas também uma obrigacao de cada crianca, onde as familias recebem uma bolsa auxilio quando os filhos nascem e onde as maes tem direito de ate 3 anos de licenca maternidade, se quiserem. Nao, nao chega. "Bom era na Alemanha oriental", diz ela, "la as mulheres podiam ter filhos ainda durante o estudo, porque tinha cresche gratuita em tempo integral". Sim, mocinha, a Alemanha oriental era perfeita. Porque tu nao vives mais nela desde os teus 5 anos de idade. Se tivesses conhecido ela como adulta, tu também nao acharias suficiente. Nao porque fosse ruim, mas porque seria aquela que tu tens.
E isso sai do campo da politica. Nao basta tu teres um corpo que funcione perfeitamente e seja livre de doencas, tu tambem precisas de peitos enormes pra achar que esta bom que chega. Nao te basta um salario bom num emprego legal, tu precisas de um salario fenomenal no emprego dos teus sonhos para poder viver em paz. Namorado? So se for o homem dos teus sonhos, o homem da tua realidade nao te basta.
E nao é questao de se conformar com o meia-boca, eu acho ate saudavel que o ser humano tenha esse impulso por buscar a melhoria, se nao fosse essa inquietude ainda morariamos em cavernas. Mas eu acredito que haja uma diferenca entre o conformismo e a satisfacao. Acho que as farmacias venderiam bem menos aspirinas se as pessoas aprendessem a ver o que esta bom enquanto buscam melhorar o que ja tem.