sexta-feira, 18 de abril de 2008

Post retardado

Já que não tenho nada de novo pra escrever, escrevo algo de velho.
E embora eu tenha dito que não escreveria sobre março de 2008, eu vou escrever sobre março de 2008. Sobre dois dias, mais especificamente. Ou sobre dois momentos, bem curtos, bem singelos, mas que servem pra encher um dia sem idéias pra esse blógue. Dois momentos de saudade.
O momento de saudade número 1 foi na Páscoa. No sábado de Páscoa. Na saída da vigília, naquele momento em que o padre diz amém e as pessoas partem para os desejos de feliz páscoa, os sorrisos enormes, e os abraços muito apertados. E no meio de um contexto que seria muito enorme pra descrever aqui, eu me peguei pensando numa coisa que eu já sabia desde que decidi a data da viagem, mas que só então eu percebi de verdade: que ali, naquela hora, eu não tinha ninguém pra desejar feliz Páscoa. E lembrei dos abraços do ano passado, e dos de todos os anos passados, e dos sorrisos, e dos beijos dados naquelas pessoas que são e sempre foram o meu chão e o meu ar. E quis ligar pra casa naquela hora mesmo mas, em parte pelo medo de ficar catando moedinhas à noite em uma rua de uma capital desconhecida, em parte pelo receio-quase-certeza de que abriria uma choradeira quando o telefone fosse atendido, acabei voltando ao plano original de deixar pra ligar no domingo. Pensei em dar umas voltas pela cidade e convensar com os meu botões, mas o frio e a chuva me fizeram ir conversar com eles no albergue-pulgueirão cheio de pessoas barulhenteas e metidas a engraçadinhas. e dormir de olhos cançados e coração cheio.
O momento de saudade número 2 foi umas duas semanas depois. Quando peguei um CD qualquer, sem inscrição alguma, e botei no player do carro do Plock seu monster. E dois acordes adiante ouvia Take on Me. E sem pensar a respeito me vieram zilhões de imagens, pessoas e momentos na minha cabeça. E eu percebi que estava com saudade de uma coisa nova: não era do Brasil, nem do Rio Grande, nem de PoA. Era - pasmem! - da Fabico. Mas espera. Saudade da Fabico? Tá, vamos esclarecer. Também não era exatamente da Fabico, era dos Fabicanos (e guardem esta declaração de amor com muito carinho, meus caros leitores fabicanos, porque este post precisa seguir adiante e vocês infelizmente não são o assunto principal. Mas sim, deu saudade enorme de vocês). E com eles, também a saudade da minha fabicana preferida, aquela de quem, desde o final do ano passado, eu vivo repetindo que sinto saudades. Mas que só naquele pequeno momento, ouvindo Take on Me na volta de Freiburg, eu percebi com toda a sua força, como uma martelada no dedão do pé, o tamanho da falta que faz na minha vida. Sim, senhoras e senhores, estou falando da Brigitte.

E por que raios eu resolvi escrever essas coisas tão "querido diário"?
Porque esses dois momentos foram de uma saudade imensa, mas também imensamente diferente daquela que eu já conhecia.
Em alemão existe uma palavrinha interessante para definir algo parecido com saudade, cuja tradução literal é "dor do lar". Acho uma palavra bem bonita, na verdade, mas meio forte demais e, por isso, sempre que as pessoas me perguntavam seu eu tenho "dor do lar", para não ser muito insensível eu respondia "tenho, mas hoje já não dói mais". Mas o fato é que eu só consegui entender o real significado dessa minha resposta pré-pronta depois desses dois pequenos momentos de saudade 1 e 2. Foram as primeiras crises de saudade que eu tive que não foram uma dor do lar. Foram um amontoado de lembranças e sentimentos, que misturavam a falta, a alegria pelo que eu venho ganhando em contrapartida a essa distância toda, e um agradecimento imenso por ter, em algum lugar lá longinho, algumas já no passado, outras que voltarão em um futuro bem próximo, essas pessoas todas que tornam a minha vida mais colorida.

Mas se você leu esse texto até aqui eu preciso informar que a parte que realmente importa vem agora:
A Paula, neste post do blógue dela, escreveu sobre as voltas que dá a vida da gente. E ao falar sobre as fases felizes ela disse que "Dá até um pouco de medo de escrever isso. Daqui a pouco as coisas viram outra vez e o carnaval acaba." O que é uma grande questão que tem tomado conta da minha cabeça nos últimos meses também. Mas depois desses dois momentos meigos que citei acima, eu começo a pensar que, talvez, esse medo seja enfim desnecessário. Porque me parece que, quando o mundo aparenta ter dado uma volta de 540graus, não foi o mundo que mudou, realmente. Embora a idéia seja muito confortável, seria egocentrismo acreditar nela. O que mudou é o nosso jeito de ver o mundo. Tentei pensar como estava a minha vida a exato um ano. E percebi que todos os "problemas", os motivos das lástimas constantes e das lágrimas até em novela das oito, ainda estão aí. Todas as coisas de que eu sentia falta há 366 dias, continuam faltando hoje, e eu nem ao menos vesti a máscara de despeitada pra dizer "eu nem queria mesmo" - ao contrário, todas essas coisas eu continuo buscando, e continuo sem saber se um dia vou encontrar. A diferença é que essa busca agora, assim como a saudade, não dói mais.

As novas saudades não são saudades novas. São apenas novos jeitos de ver as velhas saudades. Assim como as novas felicidades não são, na verdade, felicidades novas, mas sim um jeito novo de tomar conhecimento das boas e velhas felicidades, que sempre estiveram lá mas a gente esquecia de ver.