terça-feira, 20 de novembro de 2007

pequeno comentario a serio - 2

porque nem tudo sao raposas e suricates

a ideia desse post ja tem algum tempo, mas me faltava tempo pra escrever. bem, continuo nao tendo tempo, mas quem se importa, nao eh?

desde que cheguei aqui tenho observado com esse lugar tem "historia". eh claro que o brasil tem tanta historia quanto a alemanha, uma historia nao documentada e meio esquecida pra maior parte do mudo, mas tem. a diferenca eh que aqui a gente ve essa historia o tempo todo. nas cidadezinhas pequenas que ainda tem a mesma estrutura de quando eram feudos, nas ruinas dos castelos, nas igrejas policentenares, nas plaquinhas penduradas nas janelas onde Goethe vomitou...
percebi isso de uma forma mais gritante quando fui conhecer uma cidadezinha chamada trier. eh uma cidade bonitinha e razoavelmente pequena, que vem se estrutrando desde a idade antiga. no centro ainda existem construcoes (ou restos de) que tem mais de 2 mil anos e datam da epoca em que os romanos dominavam aquela regiao. uma delas eh, hoje, uma igreja evangelica construida a partir das ruinas do que foi um dia a sala onde Constantino recebia seus suditos. mais tarde, se nao me engano, o mesmo predio teve alguma utilidade para Napoleao (mas quanto a isso meu alemao ainda restrito nao permite ter certeza). e hoje esta la. boa parte da construcao ainda eh a original. a gente anda na rua e imagina as carrocas antigas, as pessoas naquelas roupas-de-epoca que hollywood ja mostrou tantas vezes pra nos. e eh tao estranho quando a gente ve essas coisas e percebe que aqueles nomes, aquelas guerras, tudo aquilo que a gente estudou no colegio existiu de verdade. de repende eles deixam de ser um amontoado de palavras decoradas pra passar nas provas da adelaide e passam a fazer parte do mundo real.
e ai que vem a parte que caiu como um tapa na cara: que a partir do momento em que a gente percebe e aceita que tudo isso faz parte do mundo, fica impossivel negar como o mundo eh antigo e imenso e incompreensivel e imensuravel. e dai a gente percebe como a gente eh pequeno, como a gente eh menos que uma migalha perto do todo. e se a gente nao chega a migalha, o que dizer dessas coisas que a gente chama de "nossos problemas"? na boa, o que importa a nossa dor de dente, de barriga, de cabeca ou de cotovelo? que diferenca vai fazer pro mundo se a gente acordou mau-humorado ou chutou o pe da mesa sem sapato?
e dai vem uma pergunta maior, mais batida, mais cliche, que todo mundo ouve alguem fazer desde que se conhece por gente mas cujo significado a gente demora pra entender de verdade: que diferenca a gente vai fazer pra esse mundo? nao, nao tou falando aqui em ser um Constantino pras criancas decorarem nossos nomes um dia antes das provas das professoras adelaides nas escolas do ano 4007. falo de diferencas possiveis e alcancaveis, nao para o mundo todo mas para o nosso mundo. para esse que nos cerca e que eh habitado por pessoas que a gente ama, em maior ou menor grau. porque a vida ta passando e esses dias, encarando meu reflexo na janela do trem, percebi que uma ruguinha bem pequenininha ja ta comecando a aparecer no cantinho do olho e eu ainda nem sei se eu quero ser publicitaria ou nao. meu bisavo quando tinha 19 anos largou o pais dele e tudo o que conhecia pra ir morar no brasil, abrir picada no mato, construir no braco a propria casa, ajudar a construir uma cidade. naquela epoca nao tinha skype pra ligar pro paiemae quando a saudade apertasse, nao tinha blog pra escrever pros amigos e nao tinha passagem de volta. mas ele foi. quase crianca ainda, mais pos-adolescente do que eu.
e eu?

a josie tem razao. os vinte e poucos anos correspondem mesmo a uma fase desesperadora da vida.