domingo, 9 de dezembro de 2007

pequeno comentario a serio - 3

porque nem tudo sao vampiros e hiphop coreano

numa das primeiras semanas aqui minha hospedeira comentou alguma coisa a respeito de um casal na cidade e usou uma expressao para defini-lo que seria traduzida como "nossos bem-conhecidos". na hora achei que fosse uma palavra inventada para facilitar a vida de alguem com dificuldades na lingua, mas depois de um tempo percebi que esse termo realmente existe e eh usado com uma frequencia incrivel. dai aproveitei uma entrevista que precisava fazer sobre relacoes pessoais para um trabalho de cultura alema e coloquei no meio a pergunta que me enrolava a cabeca: tem alguma diferenca entre amigo e bem-conhecido? porque, pra mim, se tu conheces bem a pessoa e gostas dela ela tua amiga. caso contrario, ela eh apenas conhecida, ueh. mas descobri que aqui tem diferenca, e uma diferenca enorme. a respsta foi unaninme: amigo eh so aquele em quem tu podes confiar, aquele com quem tu ja dividistes muita coisa da tua vida, aquele que nao te usa e que te ajuda sempre que tu precisares. os outros sao bem-conhecidos. achei bonito isso. em portugues falta uma palavra para "bem-conhecidos". a gente coloca tudo no mesmo saco, os amigos com A maiusculo e aquele cara bacaninha que a gente conheceu faz duas semanas. ate falamos que "amigos" sao diferentes de "amigos de verdade". mas a partir do momento que tu usas a mesma palavra para os dois, fica dificil de separar um do outro e fica dificil de saber em quais tu podes, realmente, confiar.
a gente sempre comenta que os europeus sao frios, distantes e etc etc. mas desde que cheguei aqui so tenho recebido ajuda e atencao. para fazer esse mesmo trabalho eu precisa entrevistar uma quantidade consideravel de alemaes. apelei entao para alguns contatos distantes e mandei as perguntas por e-mail para todos os meus conhecidos aqui. nos os amigos, nem os bem-conhecidos: os conhecidos normais mesmo. mandei mais por descargo de consciencia mesmo, porque eu tinha pouquissimo tempo, e achei que ninguem conseguiria (ou quereria) responder. e fiquei chocada quando vi que de todos, apenas 1 nao respondeu. e fiquei mais chocada ainda quando um parente distante, que eu so vi pessoalmente duas vezes na vida, encaminhou minhas perguntas para os seus amigos, e os amigos responderam! gente que nem sabe que eu sou! e mais: uma dessas pessoas desconhecidas eh um professor que resolveu trabalhar as minhas perguntas com seus alunos em sala de aula, e 2 dias depois me mandou uma resposta conjunta de 50 adolescentes. sabe aquela sensacao de descrenca? pois eh.
e dai a gente fala de frieza, que no brasil tem mais calor humano. mas com todo o calor humano brasileiro eu nunca teria visto isso acontecer.
acho que esse distanciamento do povo daqui nao eh questao de frieza. eh mais uma questao de auto-preservacao. se o processo para "fazer amizades" aqui eh muito mais longo, em compensacao ele eh muito mais seguro. aqui quando alguem te chama de amigo tu tens certeza de que essa pessoa esta falando serio e de que, na regra geral, essa afirmacao vai durar pra vida toda.
poooor outro lado - porque SEMPRE existe um outro lado - eh indiscutivel a falta que abracos gratuitos e sorrisos descompromissados fazem na vida de alguem. pelo menos na vida de alguem que esta acostumado. e se o risco de se machucar eh o preco que se paga por beijos de bom dia e cafunes em dias de chuva, eu ainda acho que prefiro pagar a conta.